Em 2019, uma foto mudou nossa percepção do universo: a silhueta escura do M87*, o buraco negro supermassivo no centro da galáxia Messier 87, finalmente foi revelada. Mas a ciência não parou por aí. Nesta semana, uma equipe liderada por Andrew Chael, da Universidade de Princeton, entregou mais um capítulo fascinante dessa história — agora combinando observações reais com simulações de supercomputador para revelar que M87* está longe de ser estático.
A dança invisível: simulações que revelam segredos
Utilizando os poderosos recursos do Centro de Computação Avançada do Texas (TACC), os pesquisadores simularam como elétrons e prótons se comportam ao redor do M87*. Diferente dos modelos convencionais, o novo código considera elétrons e prótons separadamente — e isso fez toda a diferença.
As simulações mostram que os elétrons são aproximadamente 100 vezes mais frios que os prótons, um ponto crítico para entender o brilho que vemos nas imagens. Essas partículas, junto com o plasma, os campos magnéticos e a força gravitacional, criam um ambiente caótico — quase teatral — em torno do buraco negro.
Revelando mais do que escuridão: movimento e transformação
A comparação entre observações antigas e os modelos computacionais revela que o anéis de luz ao redor do buraco negro não são estáticos. O ponto mais brilhante do disco de matéria (o anel de fótons) muda de posição conforme o plasma se aquece, resfria e é acelerado — criando uma "dança luminosa" que os astrônomos detectam e agora começam a decifrar.
Isso confirma o que já havia sido notado em estudos anteriores com dados de 2017 e 2018: a turbulência no disco de acreção causa deslocamentos perceptíveis e mudanças de brilho — sinal da imprevisível geopolítica gravitacional que acontece ali.
Por que isso importa — e por que nos conecta
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Confirmando a relatividade em ação: Essas observações reforçam que a sombra do buraco negro e suas dinâmicas estão alinhadas com as previsões da teoria da relatividade geral de Einstein — até nos detalhes do comportamento do plasma.
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Do estático ao vivo: O que antes era apenas uma imagem impressionante, agora ganha vida. M87* se revela como um ambiente ativo, pulsante e em constante transformação — o universo não é um museu, mas algo vivo, mesmo nos extremos.
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Retroalimentando teorias e modelos: Esses resultados fornecem parâmetros reais para validar modelos magnetohidrodinâmicos relativísticos e oferecer maior confiança a pesquisadores como os do IAG-USP que também trabalham com simulações.
Conclusão
A fotografia histórica de M87* em 2019 já havia marcado a ciência. Mas agora, com essas novas simulações e análises, entendemos que esse gigante cósmico está em movimento — literalmente dançando com sua própria luz e matéria.
É um lembrete poderoso de que o cosmos está sempre se movendo, mesmo nas regiões mais extremas. E quando olhamos para um buraco negro, não vemos apenas escuridão — assistimos a um concerto cósmico complexo, ditado por forças que ainda estamos aprendendo a ouvir.